Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Descrição de chapéu alimentação

Pizza de pudim de leite representa o Brasil

Restaurantes premiados no ranking Top 50 Pizza são exceções à criatividade culinária sem limites do brasileiro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Aqui em Brasília, de onde escrevo, é normalíssimo comer pizza com maionese.

Aliás, é normal no Brasil todo. Exceto nas partes ricas da cidade de São Paulo e em alguns bolsões gourmets salpicados por nosso território.

Foram essas exceções ao padrão brasileiro que receberam metade das premiações do ranking 50 Top Pizza Latin America, em cerimônia no prédio do consulado italiano do Rio de Janeiro, na quarta-feira (17).

Os outros 25 prêmios estão com países como Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Venezuela, El Salvador e Paraguai.

Pizza de pudim de leite condensado servida na Trip Pizza, de Curitiba
Pizza de pudim de leite condensado servida na Trip Pizza, de Curitiba - Reprodução/X

Não é preciso conhecer a cena gastronômica de Pedro Juan Caballero para deduzir que a Paradiso, casa especializada em pizza napolitana ortodoxa, destoa da média paraguaia.

Foquemos no Brasil, porém. Os 25 restaurantes da lista não representam de forma alguma os nossos hábitos ao fazer e comer pizza.

O 50 Top Pizza é um ranking criado por italianos e contempla apenas pizzarias que seriam aceitáveis na Itália, com receitas cheias de regras e limitações.

O brasileiro, como bem sabemos, desconhece limites quando se trata da criatividade culinária.

A pizza de pudim de leite condensado, servida em vários estabelecimentos país adentro, é a verdadeira representante dessa criatividade absolutamente livre de amarras.

A pizza clássica carioca, de massa pré-assada fofa e uma escassez de molho que induz ao uso de ketchup, representa o Brasil.

A pizza gaúcha, com milho, ervilha, coração de frango e estrogonofe, representa o Brasil.

A pizza mineira, com palmito regado a molho à bolonhesa, representa o Brasil.

A pizza de fast-food brasiliense, oferecida em sabor único –extrato de tomate e orégano por cima do queijo– representa demais o Brasil.

Agora fechemos o foco em São Paulo, sempre tão orgulhoso de sua tradição pizzaiola.

Poucas coisas são tão brasileiras quanto os sabores especiais da Dom Marino, rede com unidades em Presidente Prudente, Bauru, Piracicaba e outras cidades médias paulistas.

Em sua página no Instagram, a casa de Prudente anuncia pizzas de temaki, de lasanha, de açaí, de McFish, de bolo de cenoura e, claro, de pudim.

Ah, mas a capital é outro papo... Médio.

Estimo que 95% das pizzarias paulistanas, se alguém as tentasse abrir na Itália, seriam alvo de protesto, de revolta popular ou, no mínimo, desencadeariam grave incidente diplomático.

Pegue as filipetas das pizzaria de entrega, que entopem as caixas de correio dos condomínio.

Estão lá o milho com requeijão, a salsicha com batata-palha, o falso cheddar, a carne-seca, brigadeiro, o morango com leite em pó.

Há uma pequena rede paulistana chamada Jesus Pizza, cujo cardápio tem uma seção dedicada às pizzas "americanas".

Seu diferencial é a substituição do molho de tomate fresco por molho barbecue. Nem quero imaginar o tumulto que isso causaria em Nápoles.

Duas unidades da Jesus, em Perdizes e na Pompeia, ficam a apenas 2 km da Leggera, eleita a melhor pizzaria do Brasil e da América Latina pelos jurados do 50 Top Pizza.

Em tempo: parabéns pelo prêmio, André Guidon. A pizza da Leggera é sensacional. Mas ela não representa o Brasil.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.